André Duarte, carioca de nascimento, joinvillense de
coração.
Inquieto, fascinado por ferramentas, trabalhos manuais e
coisas antigas.
Das elegantes Frigidaire ao clássico automóvel Jaguar XK
120.
“Por volta de 2004, em uma viagem à Alicante, cidade
Espanhola na costa do mar mediterrâneo, me encantei diante de uma simples peça
de decoração feita em metal; naquele instante cogitei se seria capaz de
produzir algo parecido, logo percebi que poderia produzir muito, muito mais.”
O que começou despretensiosamente e sem conhecimento
profundo, logo se transformou em atividade séria e necessária; séria por ser
esta uma característica pessoal, necessária, por trazer como retorno uma
profunda satisfação em fazer algo que realmente gosto.”
Voltando um pouco no tempo...
Estudou arquitetura em 1988, posteriormente, em novo curso,
se formou em jornalismo, insatisfeito resolveu realizar um sonho antigo, ser
piloto de helicóptero. Atuou em várias partes do Brasil, sobrevoou lugares
lindos e lugares indesejados; viu culturas, hábitos, culinárias variadas, ouviu
músicas e cantigas, conheceu e percebeu a diversidade de ideias, de
pensamentos, conheceu pessoas. Ao longo dos anos levava a bordo essa bagagem
multicultural que poucas profissões proporcionam. Como uma aeronave, que requer
um contínuo e aprofundado nível de conhecimento e concentração para ser
operada, Andre percebeu que a bagagem que adiquiriu durante esses anos
precisava ser usada, aberta, exposta. O que havia começado despretensiosamente
em 2004 precisava ser retomado, ficou claro sua real vocação, produzir
esculturas com metal, criar e recriar peças em metal e solda a partir do nada,
nada além de sua imaginação.
Chapas de metal, molas, engrenagens, pinos, parafusos e
rolamentos cuidadosamente escolhidos podem, misteriosamente, tomar parte em
novas construções transformando à vida de maneira espirituosa e convincente em
uma nova personalidade. Os vestígios de suas origens permanecem visíveis como
testemunhas da transformação que o artista efetuara, um desafio à identidade
oculta em sua nova forma.
Ao contrário do que se possa pensar, não é o artista que
decide o que fazer com cada engrenagem ou rolamento. A peça é que, cansada de
sua antiga obrigação, pede, em silêncio, para ter nova função; é ela quem
escolhe no que irá se transformar, daquele momento em diante. O artista apenas
atende.
“A arte reflete um instante, um momento da vida de quem a
realiza. Trabalhando com o que se julga inútil, descubro em ferros-velhos e
oficinas mecânicas, uma nova fase para engrenagens e outras peças que um dia
giraram sem parar. Contudo, seu novo uso e movimento se restringem apenas ao
imaginário do observador atento. Elas adquirem nova função.”
Quando você começou a
se interessar por arte e qual foi a reação familiar? Desde pequeno que eu já curto trabalhos manuais, estudei arquitetura, não cheguei a me formar, fiz até o 7° período de arquitetura lá no Rio de janeiro, mas desde cedo todo mundo falava que eu gostava, que já demonstrava algum tipo de habilidade para trabalhos manuais, com esse trabalho eu comecei em 2004, eu viajei pra fora fui para Espanha numa cidade chamada Alicante que fica na Costa do mar Mediterrâneo, fui passear, fiquei lá dois meses mais ou menos e na volta para o brasil no último dia eu fui em uma loja comprar recordação pra família e amigos , quando eu vi uma escultura muito pequena feita de porcas e parafusos, feita de ferro, e eu gostei muito daquilo achei o máximo e tão barato na época custou acho que 16 euros, eu fiquei com aquilo pra mim, na volta no avião eu pensei, acho que consigo fazer isso, comprei uma maquininha de solda quase morri eletrocutado( risos) porque eu não sabia soldar, mas autodidata né meti a cara, não consegui lógico e fui para o SENAI, fiz duas semanas de curso de solda no SENAI, a minha intenção não era me formar soldador, era somente aprender aquilo ali, tanto que os professores não queria me deixar sair, mas eu não queria mais fazer as aulas, já tinha aprendido a soldar. Saí dali comprei uma maquininha e comecei a fazer, fiz uma escultura relativamente grande, totalmente sem pretensões de nada, isso no meu sitio no Rio de janeiro, e uma amiga da minha mãe foi visitar e viu e elogiou muito e perguntou onde que haviamos comprado, minha mãe disse que eu quem tinha feito, ela disse que tinha um talento ali, e ela era curadora de arte, ela pegou essa peça minha fotografou e levou para o salão de arte Casa da Lagoa e inscreveu a minha peça, meio que eu sem saber disso, e aí depois ela comentou comigo eu não levei fé, nem sabia o que era um salão de arte, para minha surpresa a peça foi para o Salão ganhou o 1° prêmio e foi vendida no dia do evento, e a partir dali eu não parei mais, comecei a juntar um monte de peça, de sucatas em ferro velho e produzi 32 esculturas, como eu ganhei o 1° prêmio nesse salão de arte eu fui convidado a participar do Salão de Arte do Clube Militar onde eu fui e ganhei também o 1° prêmio, participei no ano seguinte e eles abriram o salão cultural deles para mim pois quem ganhava algum prêmio eles convidavam para expor no salão individual, eu fiz três salões, militar 3 vezes e o naval 2 vezes e ganhei prêmios em todos. Foi aí que percebi que estavam gostando do meu trabalho, é diferente. E o curioso também é que o SENAI onde eu estudei soube e me convidou para fazer uma exposição individual lá em comemoração aos 50 anos do SENAI Solda. Começou desta forma completamente sem pretensões de nada, cheguei até aqui.
André Duarte
Como e onde começou a
sua relação com os objetos que usam para criar suas esculturas (Chapas de
metal, molas, engrenagens, pinos, parafusos e rolamentos)? Foi quando eu comprei essa peça de decoração na Espanha, uma peça muito simples é um cara em uma bicicleta subindo uma escadinha , a pessoa que fez isso lá na Espanha não tem noção do que ela causou.
Que artista
influenciou seu pensamento? Especificamente nenhum, eu sou muito fuçador, eu pesquiso na internet, eu gosto do diferente , o diferente me atrai, eu gosto muito de colocar no Google assim "trabalhos diferentes" e isso abre um mundo de ideias, qualquer coisa diferente serve de inspiração.
Onde você encontra
inspiração para o seu trabalho? Não sou eu quem escolho o que eu vou fazer, lá no antigo ateliê no Rio, eu tinha umas 3 toneladas de material espalhadas em caixas e tinha dias que era inspiração zero, mas tinha dias em que eu chegava e olhava para as caixas e a peça surgia na minha cabeça pronta, eu não sei desenhar, a minha peça ela parte do zero em uma imagem que está na minha cabeça. A minha inspiração é surpreender as pessoas com materiais que elas simplesmente desprezam.
Como você descreve o
seu trabalho? Singular, diferente, fora do ponto da curva da normalidade, várias pessoas fazem escultura com sucata,com materiais recicláveis, enfim, mas eu acho que poucas vezes, eu falo isso com muita modéstia, eu vi trabalhos que tenham fluidez como aquele tigre ali por exemplo, é mecânica , é pesado, são peças de metal ,mas você vê fluidez nele, a mulher tocando violino, teve uma pessoa que veio em uma exposição minha e disse "eu escuto ela tocar", aquilo que foi tão bom escutar.
Como é seu processo
criativo? Eu sou ariano obcecado , então quando eu estou com uma ideia na cabeça entro no meu ateliê as 7 da manhã, só saio quando vem aquela percepção de que está perigoso, que eu preciso parar porque eu estou trabalhando com solda, com furadeira, com esmeriladeira e se eu bobear eu perco um dedo, mas isso tudo é ansiedade de ver o trabalho pronto.
Mesa "Asa"
Como surgiu a ideia
para “Asas da Imaginação”? Eu sempre frequentei o Garten e percebi que aqui tem sempre exposições culturais, entrei em contato com o pessoal enviei meu material sem grandes pretensões, eles curtiram muito meu trabalho, marcaram a data e aqui está a exposição.
Em que momento se
sentiu reconhecido como artista? Quando uma pessoa simples entra aqui e fica fascinado, gosta e faz questão de apertar a minha mão e dar os parabéns, esse é o momento do reconhecimento, desde a pessoa mais simples até a pessoa mais conhecedora do tema. Na verdade eu não tenho essa pretensão de ser reconhecido como artista eu gosto muito de ficar na minha exposição mas sem me identificar porque assim você apura a verdade e a sensibilidade das pessoas, porque uma vez uma pessoa em uma exposição minha falou que a gente exerce um sacerdócio, que a gente tem uma vocação e nem sabe que tem e que gostamos de exercer, eu acho que artistas são essas pessoas consagradas, tem um em especial do século XVI chamado Lorenzo que ele esculpia em mármore, ele era um artista, porque hoje com todo tipo de ferramenta, se quebrar eu conserto, se eu soldar errado eu arrumo, agora ele em pleno século XVI pega uma pedra de 50 toneladas e começa a entalhar com uma picaretinha de nada e ele não pode errar, se ele errar acabou.
Mesa "Turbina"
Confeccionada com uma turbina real Rolls Royce utilizada nos aviões Legacy e Phenom.
É possível viver só
de arte no Brasil? Impossível, várias pessoas já falaram pra eu sair fora do Brasil que lá eu estaria rico, eu já fui convidado a participar de uma feira de artes em Nova York, eu tenho um primo nascido nos Estados Unidos, formado em Artes e ele me convidou , eu não achei viável naquele momento. Uma segunda vez eu fui convidado para fazer 4 esculturas no Rock in Rio Lisboa, só que eu estava no final do curso de piloto em uma escola de Curitiba, fiquei em dúvida entre ir ou realizar um sonho de 20 anos que é me formar como piloto, não fui e me formei como piloto.
Como você vê o futuro
das artes? preocupante porque infelizmente a prioridade é a sobrevivência então poucas pessoas tem oportunidade de apreciar arte, falta conhecimento para apreciar arte, e além disso propriamente o valor para adquirir uma obra de arte, 99 % são pessoas que entram elogiam e vão embora, mas tem aquele 1%.
"Serena"
O que você estuda?
Como você se atualiza? Internet e qualquer Literatura de técnica de soldagem, aprimoramento e ferramenta que possa facilitar a minha vida, sou sistemático, se você chegar no meu ateliê é limpo, organizado , eu gasto muito em equipamento porque tudo que facilita a minha vida eu adquiro.
Qual sua opinião
sobre os salões de arte? Fundamental, tem que ser cada vez mais divulgado, tem muita gente talentosa por aí e que não teve chance, que precisa ser descoberto. E também autopromoção, a pessoa precisa correr atrás, ter vontade, nada cai do céu.
Como você aproveita o
seu tempo livre? Com meu filho Lorenzo e minha esposa Kátia, e na semana passada soube que tem mais um há caminho, daqui oito meses vem mais um menino ou uma menina.
Mesa "Rabisco"
Qual foi a sua
exposição mais importante? A primeira, foi o 52° Salão de Arte Militar, foi especial porque eu ganhei o salão e fui convidado para fazer uma exposição individual inicialmente era para ficar 15 dias expondo no salão, aí o general me chamou e disse que nunca tinha tido tanta visitação no espaço cultural como com a minha exposição, eu fiquei 45 dias.
Onde as pessoas podem
adquirir suas obras? Em meu site www.estudioandreduarte.com.br
Participa de alguma
Associação Artística? Não, eu estou querendo entrar na AAPLAJ.
Como você vê as
tecnologias digitais? Tenho pouca paciência, tanto que meu site ficou pronto e eu tenho que enviar a minha biografia, e eu não enviei ainda, redes sociais desenvolvo muito pouco.
Na arte, o que é mais
importante para criar uma grande obra - a técnica ou o amor? Os dois mas principalmente o amor, é um sacerdócio, você faz por vocação e por amor, porque conseguir sobreviver de arte no Brasil é bem difícil, tem que ter muito amor.
Alguns artistas
curtem ouvir músicas durante o processo criativo, com você funciona da mesma
forma? E na sua playlist o que não pode faltar?
Sim, em todo lugar eu escuto música, gosto de música anos 80, Dire Straits, Rush, eu sou cristão e gosto muito de gospel, bandas nacionais: Legião Urbana, Barão Vermelho, Ira, gosto de conteúdo, músicas que digam alguma coisa, Engenheiros do Hawaii.
Sim, em todo lugar eu escuto música, gosto de música anos 80, Dire Straits, Rush, eu sou cristão e gosto muito de gospel, bandas nacionais: Legião Urbana, Barão Vermelho, Ira, gosto de conteúdo, músicas que digam alguma coisa, Engenheiros do Hawaii.
Após “Asas da
Imaginação” aqui no Espaço Garten Mais, já tem projetos futuros? Ainda não, estou em contato com a Mostra Sul de Blumenau, vamos ver o que vai acontecer.
Como funciona a sua
cabeça, no momento de começar uma obra? Existe uma sequência racional ou seu
processo é totalmente intuitivo? É racional, quando eu decido fazer uma obra, ela já aparece pronta na minha cabeça, eu só tenho que materializar aquilo nos mínimos detalhes.
O que te inspira no
dia a dia? Minha família, uma vez eu escutei uma palestra que achei muito interessante, o rapaz dizia o seguinte: a motivação é pessoal, ela é uma coisa de dentro pra fora e quando você estiver desmotivado, quando você não estiver conseguindo desenvolver essa motivação, tire a motivação de você e busque-a em uma coisa que você ama muito, eu amo minha família.
O que falta
atualmente para incentivar mais o gosto dos jovens pelas artes? Conhecimento, informação tem de mais e nem toda informação é conhecimento.
Que mensagem você
deixaria para os jovens que sonham em ingressar nas artes? Correr atrás e buscar conhecimento e acima de tudo humildade.
Deixe uma mensagem
final ao nosso blog. Diante de tanta coisa supérflua a rasa que tem, eu acho que a pessoa que quer se sobressair seja na área que for ela tem que se dedicar , as pessoas tem que ter mais ânimo pra se dedicar a alguma coisa que elas mesmas queiram, hoje em dia as pessoas estão preocupadas demais com o que o outro esta fazendo, com o que o outro esta fazendo e dá certo, só que o que o outro esta fazendo e dá certo, nem sempre é o que a pessoa quer para a vida dela. A pessoa tem que fazer aquilo que gosta de fazer e correr atrás dos sonhos dela com humildade e buscando conhecimento.
Currículo:
54° Salão de Artes do Clube Militar em 2006
55° Salão de Artes do Clube Militar em 2007
56° Salão de Artes do Clube Militar em 2008
57° Salão de Artes do Clube Militar em 2009
58° Salão de Artes do Clube Militar em 2010
Exposição Individual na Câmara Municipal do Rio de Janeiro - Maio 2008
O blog ARTES VISUAIS EXPOSIÇÕES EM JOINVILLE agradece a entrevista do artista André Duarte e convida você a visitar a exposição "Asas da Imaginação" até o dia 08 de abril no Espaço Garten Mais no Garten Shopping.
O blog ARTES VISUAIS EXPOSIÇÕES EM JOINVILLE tem como objetivo divulgar as exposições de artes que estão em exibição em Joinville e também entrevistar os artistas revelando os talentos que temos aqui na cidade dos príncipes.
54° Salão de Artes do Clube Militar em 2006
55° Salão de Artes do Clube Militar em 2007
56° Salão de Artes do Clube Militar em 2008
57° Salão de Artes do Clube Militar em 2009
58° Salão de Artes do Clube Militar em 2010
Exposição Individual na Câmara Municipal do Rio de Janeiro - Maio 2008
O blog ARTES VISUAIS EXPOSIÇÕES EM JOINVILLE agradece a entrevista do artista André Duarte e convida você a visitar a exposição "Asas da Imaginação" até o dia 08 de abril no Espaço Garten Mais no Garten Shopping.
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