Confira o texto que o Crítico de Arte Walter de Queiroz
escreveu sobre a exposição "BOATS - Ecos do Pensamento",
de Pedro Holderbaum
Artes Visuais Exposições em Joinville
Pedro Holderbaum
E LA NAVE VA
Ergueu a cabeça diante da rajada de vento outonal, o olhar
captando movimento de algo pequeno, uma folha desgarrada, amarelecida e
avermelhada, incomum por ser exótica, folha de plátano que alguém um dia
plantara por saudades de terras distantes. A folha planava, se erguia,
rodopiava, por fim caiu nas águas do rio, sua curta existência passou de
terrestre a aérea, e desta a aquática, navegava agora deslizando na superfície,
imergia, voltava à tona numa sobrevida de turbilhoes criados pelas pedras
submersas e detritos lançados às águas, tornara-se uma embarcação.
De simples tronco de árvore escavado o homem construiu a
piroga, depois fui além, queria mais, fez o bote, e a cada instante detalhes
surgiram, especializou-se, a gôndola para os canais venezianos, o iole, com seu
perfil afilado e aerodinâmico para competir, o barco é a história da
civilização. Barco de mil nomes, veleiro e clipper, saveiro e transatlântico
teu destino é ser barco de sonho, qual Flying Dutchman navegando a bolina pela
eternidade entre neblina e nuvens, sem aportar a lugar algum, pois chegar a
destino é tolher a liberdade de inventar o mar, negar a invenção de sonhar.
A arte digital ao criar obras de um espaço virtual constrói
subjetividades, inquietações intimas de significações particulares, e, por isso
mesmo não verificáveis, são espaços de fantasia em que nos relacionávamos com o
“outro”. Quando assim é proposta parte da expectativa de experiência de
reconhecimento entre indivíduos, espera acolhimento e sustentação. O que
Holderbaum propõe na sua série de barcos não é arte digital, ele reconstrói
momentos captados em sua existência, parte de snapshots colhidos alguns como
simples registros, outros em que a visão artística de sua formação predominou.
Continuando agora seu processo criativo, pinça imagens, determina quais
ferramentas irá empregar para enfatizar cores, acentuar contrastes, solorizar
por inversão valores tonais. Se apenas se ativesse a isso faria o que inúmeros
fotógrafos atuais o fazem, entretanto insuficiente para seu sonho, tem que
criar espaços virtuais, recorre à collage como foi usada por Picasso e Braque,
depois por inúmeros outros, criando o inexistente como manipulador de símbolos
visuais.
É arte fotográfica, é arte digital, é técnica mista, quando
colagem em sua essência, é poesia, folha, barco, rio, mar, onírica como o ar,
pois sonhos são feitos de ar, experiência do inconsciente ou desejo reprimido,
realização de apelo universal uma vez soltas as amarras, e la nave va.
Walter de Queiroz Guerreiro
O blog ARTES VISUAIS EXPOSIÇÕES EM JOINVILLE tem o objetivo de
divulgar e apoiar as exposições de artes que estão em exibição em Joinville e
também entrevistar os artistas, revelando os talentos que temos aqui na cidade
dos príncipes, registrando este belo momento que vivemos no cenário artístico
Joinvilense.