sábado, 9 de fevereiro de 2019


A Filha do Imperador - Fábio Pantoni
por Walter de Queiroz Guerreiro

Exposição no Instituto Internacional Juarez Machado

Fábio Pantoni Joinville



NAS DOBRAS DO TEMPO

Há personagens que se situam numa dobra espacial, entre o tempo histórico e o tempo mítico. É o caso de “A filha do Imperador”, título dado por Fabio Pantoni à esta exposição, partindo da imagem construída sobre uma personagem obscura, idealizada a partir do quadro de Franz Xaver Winterhalter retratista da nobreza europeia, e de relatos de duas fontes primárias: da Baronesa de Langsdorff sua dama de companhia na viagem para a França, e da Condessa de Barral, sua dama de corte em França. O retrato a coloca no esplendor de seus vinte anos, mas como todas as pinturas de Franz Xaver são superficiais e decorativas, falta-lhe caráter. Quanto aos relatos são comprometidos pelas relações de proximidade, no “Diário de Dona Francisca” é um anedotário, guerra com bolinhas de pão, abertura de caixas para experimentar toucas, pulando sobre as camas, invertendo a sequência de pratos numa refeição ao iniciar com doces e terminar pela sopa, e o caso “chocante” de pedir uma canja de papagaio, segundo ela remédio popular no Brasil contra o frio cortante a bordo, em suma infantilidades e frivolidades, como a descrição de seus “olhos de corça”, sua boca sedutora, o porte altivo. A condessa de Barral se limita aos bailes de máscaras, danças, cavalgadas, obras de caridade, geleias preferidas, seu talento como aquarelista, e nada mais.

Pela relação icônica com a cidade, uma vez que se originou de seu dote, Fabio Pantoni a elegeu para uma leitura estético-formal, longe da pintura histórica, pois seria um anacronismo válido apenas no passado. Sua visão é contemporânea como processo, vocação que Bourriaud denomina Altermodernidade, um estado de acumulação flexível com temporalidades múltiplas e simultâneas, não se podendo rotular um estilo, mescla de formas antigas com todas estéticas modernistas. Existe historismo, a apropriação de cenas idealizadas plasticamente, como nas duas obras em que a princesa veste uma blusa (e noutra saia!) barrada de azul e branco, uniforme adotado pela Marinha Francesa uma década depois da viagem. Sua obra respira por exemplo Paula Modersohn-Becker, precursora do expressionismo alemão, visível na face e na touca de serviçal, em contraposição ao restante da figura em negro, cortada pela faixa dourada, onde se alinham caracteres de uma fonte tipográfica Art Nouveau, como um cartaz de época. Um friso geometrizado noutra remonta ao Arts & Crafts inglês, o dourado remete à Klimt, que por sua vez se inspirou nos ícones bizantinos de Justiniano, beleza porém também pureza, realeza e glória pelo esplendor da vida. O tema mitológico de Leda e o Cisne é retomado com a princesa ladeada por flamingos, tais como suportes das armas de um brasão, erotismo acentuado pela cor e pelos pássaros. Suas figuras são marcadas pelo contorno, algo do Art Nouveau, do Déco, da bidimensionalidade da Pop Art e da pintura da década de sessenta como síntese modernista.

Seu trabalho é isso, algo que permeia tudo, passado, presente e futuro, um estado de superconsciência, algo como Baudelaire já o disse: “ o elemento próprio de cada beleza provém das paixões, e, como temos nossas paixões próprias, temos as nossas belezas”.

Walter de Queiroz Guerreiro, Prof. M.A.
Crítico de Arte ( ABCA - AICA) e
Historiador


O blog ARTES VISUAIS EXPOSIÇÕES EM JOINVILLE tem o objetivo de divulgar e apoiar as exposições de artes que estão em exibição em Joinville e também entrevistar os artistas, revelando os talentos que temos aqui na cidade dos príncipes, registrando este belo momento que vivemos no cenário artístico Joinvilense.






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