segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019


Confira o texto que o Crítico de Arte Walter de Queiroz 
escreveu sobre a exposição "BOATS - Ecos do Pensamento", 
de Pedro Holderbaum

Artes Visuais Exposições em Joinville




Pedro Holderbaum Joinville

Pedro Holderbaum



E LA NAVE VA
Ergueu a cabeça diante da rajada de vento outonal, o olhar captando movimento de algo pequeno, uma folha desgarrada, amarelecida e avermelhada, incomum por ser exótica, folha de plátano que alguém um dia plantara por saudades de terras distantes. A folha planava, se erguia, rodopiava, por fim caiu nas águas do rio, sua curta existência passou de terrestre a aérea, e desta a aquática, navegava agora deslizando na superfície, imergia, voltava à tona numa sobrevida de turbilhoes criados pelas pedras submersas e detritos lançados às águas, tornara-se uma embarcação.


De simples tronco de árvore escavado o homem construiu a piroga, depois fui além, queria mais, fez o bote, e a cada instante detalhes surgiram, especializou-se, a gôndola para os canais venezianos, o iole, com seu perfil afilado e aerodinâmico para competir, o barco é a história da civilização. Barco de mil nomes, veleiro e clipper, saveiro e transatlântico teu destino é ser barco de sonho, qual Flying Dutchman navegando a bolina pela eternidade entre neblina e nuvens, sem aportar a lugar algum, pois chegar a destino é tolher a liberdade de inventar o mar, negar a invenção de sonhar.


A arte digital ao criar obras de um espaço virtual constrói subjetividades, inquietações intimas de significações particulares, e, por isso mesmo não verificáveis, são espaços de fantasia em que nos relacionávamos com o “outro”. Quando assim é proposta parte da expectativa de experiência de reconhecimento entre indivíduos, espera acolhimento e sustentação. O que Holderbaum propõe na sua série de barcos não é arte digital, ele reconstrói momentos captados em sua existência, parte de snapshots colhidos alguns como simples registros, outros em que a visão artística de sua formação predominou. Continuando agora seu processo criativo, pinça imagens, determina quais ferramentas irá empregar para enfatizar cores, acentuar contrastes, solorizar por inversão valores tonais. Se apenas se ativesse a isso faria o que inúmeros fotógrafos atuais o fazem, entretanto insuficiente para seu sonho, tem que criar espaços virtuais, recorre à collage como foi usada por Picasso e Braque, depois por inúmeros outros, criando o inexistente como manipulador de símbolos visuais.


É arte fotográfica, é arte digital, é técnica mista, quando colagem em sua essência, é poesia, folha, barco, rio, mar, onírica como o ar, pois sonhos são feitos de ar, experiência do inconsciente ou desejo reprimido, realização de apelo universal uma vez soltas as amarras, e la nave va.

Walter de Queiroz Guerreiro


O blog ARTES VISUAIS EXPOSIÇÕES EM JOINVILLE tem o objetivo de divulgar e apoiar as exposições de artes que estão em exibição em Joinville e também entrevistar os artistas, revelando os talentos que temos aqui na cidade dos príncipes, registrando este belo momento que vivemos no cenário artístico Joinvilense.



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